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26-02-2016 - Declaração à imprensa da Presidenta da República, Dilma Rousseff, por ocasião da visita ao Chile - Santiago/Chile

Santiago-Chile, 26 de fevereiro de 2016

 

Muito obrigada, presidente, querida presidente Michelle Bachelet, presidente da República do Chile,

Queria também cumprimentar os senhores ministros de Estado e a delegação que me acompanha juntamente com os ministros de Estado e a delegação do Chile,

Queria cumprimentar os senhores jornalistas, os senhores fotógrafos e os senhores cinegrafistas.

 

E dizer para vocês muito boa tarde e que eu tenho grande satisfação de retornar ao Chile, onde estive pela última vez em 2014, na posse da presidente Michelle Bachelet.

Desde então, eu tive a honra de receber minha amiga presidenta, em Brasília, em três ocasiões. Era hora, portanto, que, mais do que urgente de voltar ao Chile.

Nós hoje examinamos os principais temas da agenda bilateral, a começar pelo comércio, totalmente liberalizado no amparo do acordo Mercosul-Chile, mas que tem sofrido também os efeitos da crise mundial.

Ainda assim, o Chile segue sendo o segundo maior parceiro do Brasil na América do Sul; e o Brasil, o principal parceiro do Chile no continente.

Somos o primeiro destino dos investimentos chilenos no mundo, com o maior estoque, de cerca de 26 bilhões…Aliás, de 8 bilhões de dólares…26 bilhões de dólares e a geração de quase 100 mil empregos, segundo os dados que nós temos entre nós e o governo chileno.

O acordo, que nós assinamos em novembro, de Cooperação e Facilitação do Comércio,  dá um passo decisivo na criação de um ambiente mais favorável aos investimentos que nós podemos e devemos fazer entre nossos países. E ao mesmo tempo, nós estamos negociando um acordo de compras governamentais que, certamente, vão ajudar a dinamizar as nossas relações. Além disso, estamos também trabalhando numa proposta de Acordo de Serviços Financeiros, que complementará o acordo de facilitação dos investimentos.

Nós temos como foco das nossas relações bilaterais e regionais os projetos de integração em infraestrutura, em especial os corredores bioceânicos que vão encurtar a distância entre o Atlântico e o Pacífico e facilitar o nosso posicionamento geoestratégico no mundo.

Nós priorizamos a rota rodoviária, juntamente com o governo do Chile, da Argentina e do Paraguai que ligará o porto de águas profundas, e fará essa ligação entre a cidade de Porto Murtinho, no Brasil, lá no Mato Grosso do Sul, e o trecho Antofagasta-Iquique. Esse corredor, ele é estratégico. Ele é estratégico porque ele vai permitir uma articulação inter-regional e vai nos colocar diante dos portos do Atlântico e do Pacífico, permitindo tanto o acesso aos mercados da Europa, da África e dos Estados Unidos, como também aos mercados asiáticos. E isso além de permitir a integração entre as nossas economias com todas essas relações. Além disso, nós iremos olhar alguns outros corredores, mas esse será o estratégico.

Esse eixo de convergência  da infraestrutura, ele é fundamental porque ele permite a aproximação física. E em qualquer marco de integração regional, isto significa, também, mais volume de comércio, mais volume de investimento.

Eu reitero meu apreço ao papel que o Chile desempenha na aproximação da Aliança do Pacífico com o Mercosul. Eu homenageio aqui a presidenta Bachelet pela sua iniciativa no sentido de facilitar e de construir esta aproximação que é muito importante, é estratégica para a América do Sul. Mesmo porque num momento de crise, num momento de queda dos preços das commodities, de desaceleração de economias emergentes e de crise mais profunda, nós temos de cooperar, nós temos esse caminho e esse é um caminho que sem dúvida leva ao maior desenvolvimento econômico e a criação de emprego e mais renda para as nossas sociedades.

Acredito que a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia do Chile vai contribuir para promover ainda mais nossa cooperação no setor de ciência, tecnologia e inovação. Nessa área nós já identificamos várias oportunidades como as tecnologias de comunicação, de informação, a biotecnologia tanto em fármacos, as energias renováveis, enfim, a prevenção e a mitigação de desastres naturais, a astronomia e astrofísica. Eu noto, a propósito, que nós participamos na construção do Telescópio Magalhânico Gigante e que o Congresso brasileiro aprovou, em 2015, o Acordo de Adesão do Brasil ao Observatório Europeu do Sul. Nosso ingresso no Observatório Europeu do Sul trará benefícios não somente para a indústria brasileira, mas também para a ciência e a educação no Brasil. E essa é uma cooperação com o Chile.

Na área da cultura, eu destaco a assinatura do nosso Protocolo de Cooperação Cinematográfica para apoio à Coprodução, entre nós e o Chile, a coprodução de filmes e demais peças que vão permitir que nós tenhamos uma relação bem estreita entre o Ministério da Cultura do Brasil e o Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile.

Nossa cooperação em matéria de saúde avançou com a assinatura, no ano passado, do Acordo sobre Acesso Universal de Medicamentos, que proporcionará medicamentos que tenham alto custo tenham um preço mais reduzido em nossos países.

Eu agradeci também à presidente Bachelet a sua colaboração em todas as nossas reuniões bilaterais e multilaterais a respeito dos esforços do Governo brasileiro no combate ao vírus zika. Nós concordamos ser fundamental essa cooperação regional frente a esse desafio. Não só em relação ao vírus zika, mas também ao vírus da dengue e da chikungunya.

Na cooperação em direitos humanos, nós tratamos da implementação do memorando assinado no Brasil em 2014. É simbólico para a história de nossos países que o acordo tenha sido assinado por duas presidentes, nós que somos "testemunhas vivas desse processo", como disse na ocasião a presidente Bachelet.

Agradeço-lhe novamente, minha querida amiga Bachelet, pelas informações enviadas pelo Chile que contribuíram para o relatório final da Comissão Nacional da Verdade.

No que se refere aos temas globais, nós coincidimos na visão de que o mundo enfrenta desafios que só poderão ser superados com esforços coletivos, coordenados e muito cooperativos. Chile e Brasil atuaram e vão continuar atuando de forma coordenada na formulação do acordo que levou ao sucesso da COP-21. E vamos continuar de forma coordenada atuando na implementação das decisões emanadas da COP-21, assim como da Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Eu aproveitei a oportunidade desta visita para reiterar o convite para que a Michelle Bachelet acompanhe juntamente comigo e demais chefes de Estado e de Governo, no Rio de Janeiro, em agosto, da abertura dos Jogos Olímpicos. Convidei, também, todo o povo chileno, os atletas e os torcedores a irem mais uma vez ao Brasil - vocês já nos prestigiaram bastante na Copa do Mundo -, e agora  também convidei o Chile a estabelecer uma Casa Nacional do Chile, no Rio de Janeiro. Desejo também muita sorte aos chilenos e às chilenas que vão participar dessa disputa e dessa cerimônia que, além de ser uma cerimônia esportiva, é uma comemoração sobre a paz.

Além disso, discutimos temas como o tema do apoio que devemos dar ao processo de paz na Colômbia. Basicamente o Brasil está empenhado em assegurar as condições de reintegração de toda a questão resolvida pelo acordo de paz através tanto de processos de inclusão produtiva como também de retirada de minas das regiões de conflito. O que significa uma atitude humanitária diante do fato de que isso provoca ameaça à vida às populações locais.

Finalmente queria dizer à minha querida presidenta do Chile, Michelle Bachelet, que Pablo Neruda disse que "nossas estrelas primordiais são a luta e a esperança, e não há luta nem esperança solitárias". É essa a mensagem que inspira o meu e o seu trabalho conjunto em prol da amizade e do desenvolvimento do Chile e do Brasil. Luta e esperança.

Muchas gracias, presidente.

 

Ouça a íntegra do discurso (11min08s) da Presidenta Dilma